Ozzy Osbourne se despediu dos palcos e transformou o dia 5 de julho em uma data histórica para os fãs de rock e metal. Sem conseguir ficar de pé por conta de problemas de saúde, trouxe seu visual inspirado nas trevas para o palco em um grande trono preto e se esforçou para entregar uma apresentação à altura de sua trajetória. Além disso, o mesmo palco trouxe, antes de sua chegada, gigantes da música como Guns N' Roses, Metallica, Slayer, Pantera e Alice In Chains, Steven Tyler (Aerosmith) e Ronnie Wood (The Rolling Stones) fazendo covers do Black Sabbath.
O primeiro show foi solo, com cinco músicas. O segundo teve mais quatro canções e marcou o reencontro da formação original do Black Sabbath: Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria). O evento ocorreu neste sábado, 5, no estádio Villa Park, na cidade de Birmingham, na Inglaterra, onde o quarteto surgiu em 1968.
Com o título Back To The Beginning: Ozzy's Final Bow (De Volta ao Início: a Reverência Final de Ozzy, em tradução livre), a apresentação marca a despedida de Osbourne, que tem 76 anos de idade, dos palcos. Ele não fazia um show completo desde 2018, e nenhuma aparição pública cantando desde 2022.
Um grande 'trono das trevas', feito de couro preto e com um crânio em cada lado, surgiu no palco para delírio da multidão. Nele, Ozzy Osbourne, também todo de preto, mas com alguns detalhes em dourado - incluindo uma faixa com seu nome no braço esquerdo. Ao fundo, a música O Fortuna, de Carl Orff (Carmina Burana) dava sinais de que uma epopeia estava por começar.
A canção escolhida para abrir o show foi I Don't Know. "People look to me and say: is the end near? When is the final day?", disse nos primeiros versos. Algo como: "As pessoas olham para mim e dizem: o fim está próximo? Quando será o último dia?". Fazia sentido para alguém que, não apenas chegava ao "último dia" de sua carreira, como nos últimos anos foi frequentemente alvo de especulações sobre sua saúde e chegou a indicar que "não tem medo de morrer" e não almeja uma "existência longa, dolorosa e miserável".
"Obrigado. Deus os abençoe", agradeceu, ao fim da música. A fala contrastava com o visual soturno e a chamada para a música seguinte: Mr. Crowley, que faz referência ao famoso escritor ocultista britânico. A plateia foi ao delírio e cantou junto. Depois, Suicide Solution. Emocionado e sem saber bem o que dizer, Ozzy se dirigiu ao público: "Vocês não têm ideia de como eu me sinto. Obrigado, do fundo do meu coração".
Veio, então, Mama I'm Coming Home. um de seus sucessos com ritmo mais tranquilo. "Os tempos mudaram, e os tempos estão estranhos. Aqui vou eu, mas não sou mais o mesmo. Mamãe, eu estou voltando para casa", canta, nas primeiras estrofes. Depois da 'calmaria', gritou a aclamada introdução para que todos subissem a bordo de seu Crazy Train.
Em certos trechos, Ozzy Osbourne aparentava certa dificuldade para cantar. O show foi curto, porém, não perdeu fôlego a nenhum momento. O público entendeu a grandiosidade do momento histórico e aplaudiu aos gritos de "Ozzy! Ozzy! Ozzy!" enquanto era tomado por uma chuva de papéis picados metálicos no momento em que Osbourne encerrou o último show solo de sua carreira, ainda sob a luz de um dia acinzentado. Mas ainda viria mais por aí.
O último show da formação original do Black Sabbath
A noite já tinha tomado conta de Birmingham quando um vídeo começou a ser exibido nos telões. Uma brevíssima e dinâmica 'retrospectiva' com momentos importantes do Black Sabbath. A fama de banda satânica, o jeito desbocado de Ozzy Osbourne, os músicos subindo em aviões e helicópteros, estádios cheios, entrevistas a repórteres de TV, uma versão em desenho animado que remete aos anos 1960. "Todos nós deveríamos estar mortos. Nós éramos doidos para c***", constava numa das falas recuperadas do vocalista. Por fim, o logotipo da banda em uma animação 'pegando fogo'.
Uma sirene marcou o começo do show no palco, de fato. Era a deixa para War Pigs. "No campo, os corpos estão queimando, enquanto a máquina da guerra continua rodando. Morte e ódio à humanidade". Em seguida, N.I.B., com destaque especial para a habilidade do baixista Geezer Butler (que pouco depois trocaria seu instrumento por um estilizado nas cores do Aston Villa, seu time do coração). Os companheiros de banda na maior parte do tempo se portavam de forma discreta, por vezes quase protocolar, ainda que com a competência de sempre.
No clássico Iron Man, como um maestro, Ozzy ergueu os braços em seu trono e 'regeu' a plateia, no ritmo da melodia: "Oh-oh-oh-oh-oh! Oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh! Oh-oh-oh!". Houve tempo ainda para o solo de guitarra de Tony Iommi antes de mais alguns agradecimentos ao público feitos por um Ozzy de coração derretido ("Vocês estão maravilhosos. Muito obrigado").
Ainda viria mais um clássico pelo caminho: Paranoid. De olhos vidrados, Ozzy pedia à plateia que cantasse junto: "Mais alto! Mais alto!". E lá se foram os últimos versos: "And so, as you hear these words telling you now of my state, I tell ou to enjoy life. I wish i could, but it's too late". Traduzindo, algo como: "E então, enquanto você ouve essas palavras que conto sobre o meu estado, te digo para aproveitar a vida. Eu gostaria que eu pudesse, mas é tarde demais".
Isso é o que diz a letra. Fica claro pelo discurso de Ozzy que ele soube "aproveitar a vida", à sua maneira. E ainda tem muito a aproveitar pela frente - agora, porém, longe dos palcos. As luzes se apagaram e a música deu lugar ao estouro de fogos de artifícios na noite de Birmingham. Sem dúvidas, uma noite histórica.